sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ser ou não ser (dependente químico)?

A conversa que se desenrolou em uma sala da Comunidade Terapêutica Terra da Sobriedade entre as terapeutas ocupacionais Ana Luiza Viana e Carolina Couto da Mata, quando questionadas sobre o que diferencia o usuário social de drogas do usuário compulsivo - ao qual a internação em clínicas de tratamento se apresenta como alternativa - deu o tom da complexidade em se afirmar se um indivíduo é, ou não, dependente químico.

Há, segundo Carolina e Ana, critérios objetivos, mas, sobretudo, importa o critério social - que implica avaliar subjetivamente a relação do indivíduo com a droga consumida e os efeitos dela decorrentes. Carolina destacou o tempo de consumo da droga como um dos fatores que é considerado na avaliação - neste momento, um interlocutor afirmou que seu irmão "fuma maconha, normal, há 25 anos", sugerindo que não era um caso de dependência química.

A observação do interlocutor faz sentido se observadas as diferenças entre o sujeito que faz uso de substâncias psicoativas, o que abusa delas, e o que mantém relação de dependência química com as drogas, segundo os pesquisadores Ronaldo Laranjeira, Selma Bordin e Neliana Buzi em seu livro "Aconselhamento em Dependência Química".

Os autores indicam que "não existe uma fronteira clara entre uso, abuso e dependência quimica. Poderíamos definir uso como qualquer consumo de substância, seja para experimantar, seja esporático ou episódico; abuso ou uso nocivo como consumo de substâncias já associado a algum tipo de prejuízo (biológico, psicológico e social); e, por fim, dependência como consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário."

É necessário lembrar que os efeitos psicoativos de cada droga são diferenciados, pela própria composição química de cada uma, e pelas diferentes reações apresentadas pelos organismos. Um trecho do Livreto Informativo Sobre Drogas Psicotrópicas elaborado em parceria entre a Universidade Federal de São Paulo e o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas aponta que "os efeitos psíquicos agudos dependerão da qualidade da maconha fumada e da sensibilidade de quem fuma. Para uma parte das pessoas, os efeitos são uma sensação de bem estar acompanhada de calma e relaxamento, sentir-se menos fatigado e vontade de rir (hilariedade). Para outras pessaos, os efeitos são mais para o lado desagradável: sentem angústia, ficam aturdidas, temerosas de perder o controle mental, trêmulas, suadas. (...)"

A dependência química pode ser identificada pelo próprio usuário (e isso é condição para o tratamento na Comunidade Terapêutica Terra da Sobriedade: que o indivíduo se reconheça como dependente e que queira tratar-se). A irmandade de Narcóticos Anônimos elaborou um questionário com algumas perguntas que podem auxiliar o usuário de drogas a refletir sobre seu grau de dependência em relação às substâncias consumidas; algumas das perguntas sequer mencinonam 'drogas', e um texto que as acompanha aponta que o número de 'sim' respondido não significa maior grau de dependência - o critério, também, é subjetivo.