É quase assutadora a idéia de que, quando uma mãe procura orientação sobre como ajudar seu filho a se curar do vício, ela é convidada a sentar-se, tomar agulha e pano nas mãos para costurar. O suspiro de alívio só pode ser dado quando se lembra que este grupo é para cuidar dos co-dependentes - os parentes e amigos de D.Q.'s que, de alguma forma, adoeceram na relação com eles, adotando comportamentos que, no lugar de ajudá-los na recuperação, contribui para que permaneçam usando drogas.
A proposta da equipe clínica responsável por orientar os co-dependentes era de costurar uma colcha de retalhos - aquela heterogênea colcha que mais habita o imaginário coletivo do que os armários. Nada mais adequado, se é na consciência que as mudanças mais desejadas se operam.
Os grupos de mútua ajuda têm uma literatura específica que subsidia suas reflexões. Parte delas provêm do Programa Amor Exigente - uma adaptação de propostas norteamericanas criadas para orientar familiares de dependentes químicos - acrescida de dois 'passos', que, se seguidos, prometem uma vida mais serena, especialmente quando o olho do furacão está deitado no quarto do seu filho.
Em setembro, a literatura tratou de 'grupo', e, em outubro, de 'cooperação'. Costura daqui, amarra dali, a equipe clínica entendeu que uma colcha de retalhos poderia materializar as idéias trabalhadas - mas com reservas, como explica a psicóloga Kátia Marra. "O desafio é mostrar que o importante são os sentimentos ao longo do processo, não o retalho construído."
Ainda segundo a psicóloga, “a idéia de construir uma colcha é de costurar retalhos aparentemente desconectados de modo a construí-la como um todo harmônico. Paralelamente, propiciar aos participantes a oportunidade de conviver com a diversidade, exercitar a projeção e identificação, superar conflitos, talvez construir parte de sua história, ou reproduzi-la.”
Aí, os conflitos se tornam tão palpáveis quanto o tecido. Os participantes com poder aquisitivo mais alto não querem seu retalho ao lado dos também retalhos feitos por aqueles menos abastados (isso poderia ser chamado de retaliação?). Há quem queira dominar o destino da colcha - torná-la um troféu, uma obra de arte exposta à visitação, um emaranhado escondido, cinzas.
Segundo a psicóloga, as decisões individuais não podem ser tomadas em detrimento das coletivas. Da colcha de retalhos feita pelo grupo, será feito o que o grupo quiser: atear fogo, doar a um mendigo, à instituição, rifar, e sortear são algumas das opções.
É curioso como as idéias se comunicam, e a polifonia parece usar de alto falantes por aqui. "O abuso de drogas é um problema social", dizia ontem mesmo Ana Luiza, terapeuta ocupacional. Nesta condição, só socialmente pode ser resolvido. Voi lá!
Que apartheid é esse? Realmente deplorável o posicionamento de certas pessoas, ainda mais quando ambas famílias estão em situações parecidas. Como diria a Rita, está cada vez mais down no high society!
ResponderExcluirQue coisa maluca, heim?
ResponderExcluirBelo texto, imagens idem.
Que bom que você mudou o tema do blog, assim, pudemos conhecer melhor o trabalho bacana desenvolvido pela ong.
Parabéns!